Resenha: Willow

Willow, Julia Hoban
★★
Sinopse: "Sete meses atrás, em uma noite chuvosa de março, os pais de Willow, de dezesseis anos, morreram em um terrível acidente de carro. Agora, seu irmão mais velho custa falar com ela, seus colegas de classe sabem que ela é uma garota assassina e orfã e Willow bloqueia a dor secretamente se cortando. Mas, quando um garoto - um sensível garoto - descobre o segredo de Willow, surge uma relação intensa entre eles que traz o mundo "a salvo" que Willow criou para si mesma à baixo."
Nada mais justo que começar a resenha resumindo o drama que o livro carrega. Willow se descreve como uma garota de dezesseis anos que já é orfã e assassina. Seus pais morreram em um acidente de carro horrível numa noite chuvosa em que ela dirigia o automóvel. Ela mora com David, seu irmão que é dez anos mais velho, casado e pai de uma menininha. E ainda que seja nova no colégio, todos sabem que ela não tem pais e que "os matou". A dor que Willow carrega pela perda e culpa a obriga tomar outros caminhos para cessar essa dor emocional - ela apela para a dor física, retalhando seus braços, pernas e até a barriga.

A primeira cena fez impossível que eu não cerrasse os dentes ou apresentasse qualquer outra expressão em angústia. A narração em terceira pessoa, que é seca e direta, me abalou. Cheguei a crer tanto na narração que eu passei a me sentir mal, ao ler eu sentia como se alguém estivesse espiando pela fechadura de Willow, narrando a cena em bom tom, sem fazer nada - apenas observando e narrando. Certos momentos em que Willow resolvia talhar sua própria pele, eu queria poder mergulhar nas páginas do livro e tirar a lâmina de suas mãos.

Tudo que posso dizer é que é triste. Triste. Angustiante. Seu irmão chora todas as noites. Confesso que chorei junto com ele. O fato dele ter que cuidar de Willow o devasta - não por ter que cuidar de sua pequena irmã assassina, mas saber que teve dez anos a mais com os pais que Willow nunca terá; ter que aceitar o salário que Willow recebe como bibliotecária para ajudar nas contas de casa, uma vez que ele não tem coragem de vender a casa dos pais. Sequer tem coragem de entrar na casa. David é só mais um personagem do livro que está destroçado, que segue em frente por ter que ser forte para a família, que recorre ao caminho do silêncio já que é o mais fácil e menos doloroso.

O drama de Willow não é pouco, devo dizer. Todo e qualquer preconceito que eu tinha, mesmo que não soubesse, com alguém que se auto-mutilasse, foi retirado ao ler esse livro. A leitura é tão forte que você acaba por experimentar a dor de alguém e compreender.
"Talvez seja porque, ao ouvir Guy ler a nota, se deu conta, igual o que a ocorreu ao ver David com Isabelle, ela nunca vai ser filha de ninguém. Ninguém vai se preocupar com ela da forma como seus pais o faziam, ninguém vai cuidar-la como eles. A única vez que Willow será capaz de experimentar um laço assim será quando for ela mesma uma mãe. E mesmo nessa altura necessitará de sua própria mãe e ela não estará lá. Ela não vai estar lá, porque ela morreu. Morta. Com décadas de antecedência. E surpreende Willow, a surpreende muito, que a lâmina há conseguido lhe anestesiar por tanto tempo, porque o sentimento que a invade é tão avassalador, tão devastador, que precisaria de mais do que um par de cortes para transformar sua angústia."
Por fim, temos Guy *exalando amor*. Por fim nada, por início, na verdade. Demorei três/quatro parágrafos para citá-lo, mas sabe como é... A gente deixa o melhor para depois. Guy, de longe, é um dos meus personagens preferidos - apenas perdendo para o Warner, de Estilhaça-me. Não, Guy não é um apelido - é seu nome. Guy é um cara que está terminando o colegial e frequenta às aulas de antropologia que David, o irmão de Willow, apresenta em uma faculdade. Guy e Willow se conhecem na biblioteca e, de cara, se dão bem, é claro. Sem nem perceber, eles se envolvem em uma conversa a qual ambos dominam. A garota que não se abre com ninguém, lhe oferece um espaço sem perceber. É assim que ele é. É tão sincero que não tem como fugir dele.

Ele é um cara com tantas qualidades! Guy é devorador de livros, uma vez que teve aulas particulares com um britânico que checava as horas em um relógio de bolso e preferia Milton à Shakespeare. Ele é bom. É dedicado. Tem seus defeitos, é claro, mas... É o cara que você quer conversar, que quer conhecer e que, sem nem pedir, te compreende. Ao descobrir o segredo de Willow, Guy não vê como fugir da situação. Não pode contar a David mas também não pode largar a garota para que se corte e perca sangue até que a morte a alcance. Isso vai contra seus princípios e seu caráter digno, cof cof. Não vê Willow como um projeto, mas ele se doa. Pouco a pouco, relutante, ele oferece tudo que tem a oferecer para ajudá-la.

"Para Guy:
Ó admirável mundo novo que possui tais pessoas..."

Preciso falar que recomendo a leitura de Willow? Nah. É arrebatador. É triste. Quem sabe até mude o seu ponto de vista sobre um bucado de coisas...

Bianca

2 comentários:

  1. Nunca li livros tão "pesados" assim, principalmente porque não sei como vou reagir. Fiquei muito curiosa para ler esse livro, apesar da história que ele tem. Prefiro livros que são narrados em terceira pessoa, porque assim a gente entende o real foco da história e não o que tal personagem pensa sobre tal coisa, sabe? Enfim, amei sua resenha! Também não conhecia seu blog e achei lindo, parabéns.

    Um beijo, Karine Braschi.
    Geek de Batom. (@geekdebatom)

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    1. Oi, Karine. Seja bem-vinda, antes de tudo! Pois é, eu não imaginava que Willow fosse tão pesado, na verdade. Mas, apesar disso, foi uma leitura MUITO boa. Assim como você disse, um dos pontos positivos foi exatamente a narração em terceira pessoa por vermos todas as situações.
      Caso faça a leitura, me avise para podermos conversar mais sobreo livro!!
      Bjks

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